segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Bullying

Quem já não presenciou aquelas brincadeiras de mau-gosto que tantas crianças e jovens costumam fazer? Atualmente o “pedala Robinho” é uma das mais conhecidas. Outras como os apelidos pejorativos, o corredor polonês, o selinho num sapato novo, os cascudos na cabeça de quem cortou o cabelo, os ovos com farinha em quem faz aniversário e o próprio trote aos calouros ao ingressarem na universidade acontecem com freqüência.

Em vários países tem-se observado um aumento na violência com que estas “brincadeiras” têm sido praticadas. Exemplo disso são os assassinatos ocorridos no início da década de 90 nas escolas dos Estados Unidos e o suicídio de alguns jovens. Os envolvidos neste caso eram crianças e jovens que sofriam agressões físicas ou psicológicas freqüentes. A partir da década de 90, o termo bullying – que significa algo como intimidação - tem sido utilizado para caracterizar estes comportamentos agressivos. Este é um problema que ocorre principalmente em grupos, mas pode ocorrer, também, entre dois indivíduos. É caracterizado por atitudes agressivas (físicas e psicológicas) e repetitivas que têm por finalidade humilhar, ferir, ofender, intimidar, excluir, amedrontar e discriminar uma pessoa ou grupo de pessoas.

Uma conceituação muito utilizada atualmente, estabelecida por Olweus (1993), leva em conta três fatores essenciais do bullying:
1) Comportamento agressivo e negativo
2) Comportamento repetitivo e insidioso
3) Comportamento ocorre em relações onde existe um desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas.

Primeiramente este comportamento foi observado entre estudantes. Por isso o conceito de bullying ficava restrito ao ambiente escolar. Atualmente, porém, utiliza-se este conceito para explicar comportamentos similares que ocorrem em outros ambientes - clubes, trabalho, grupos de colegas do prédio ou da rua, instituições militares, etc - e que não estão circunscritos a uma faixa etária única, podendo ocorrer não apenas entre crianças e adolescentes, mas, também, entre adultos.

De um lado temos os autores (agressores) e de outro os alvos (vítimas das agressões). É comum observarmos autores/alvos, ou seja, aqueles que ora são autores do bullying, ora alvos.Observamos, muitas vezes, que os autores foram alvos do bullying durante algum tempo ou vítimas de outros tipos de agressão – pais violentos, estrutura familiar degradada, abuso sexual, etc. Do outro lado, a criança ou jovem alvo do bullying pode apresentar personalidade caracteristicamente passiva e retraída e pode já sofrer com algum grau de auto-estima negativa. Sente-se inseguro diante de situações adversas e não tem suporte emocional para lidar com isso. Em alguns casos, são, também, vítimas de outros tipos de violência, porém, lidam com este fato tornando-se retraídas, inseguras e passivas.

Levantamento realizado pela ABRAPIA, em 2002, envolvendo 5875 estudantes de 5a a 8a séries, de onze escolas localizadas no município do Rio de Janeiro, revelou que 40,5% desses alunos admitiram ter estado diretamente envolvidos em atos de bullying, naquele ano, sendo 16,9% alvos, 10,9% alvos/autores e 12,7% autores de bullying.

Alguns comportamentos são indicativos de crianças e jovens em idade escolar que sofrem bullying:
1) Desinteresse repentino pela escola, caracterizado por faltas e atrasos
2) Diminuição do aproveitamento escolar
3) Surgimento ou intensificação da irritabilidade, agressividade, angústia e/ou ansiedade
4) Retraimento excessivo ou isolamento
5) Humor deprimido
6) Auto-estima negativa
7) Insegurança
8) Medo
9) Problemas relacionados ao stress (baixa imunidade, fadiga, insônia, dificuldades de atenção, etc).

Os casos extremos de bullying revelam a face mais obscura deste fenômeno: reagindo às agressões, o alvo pode cometer suicídio ou assassinatos, como os ocorridos nos EUA. Por outro lado, a violência dos autores do bullying pode resultar na morte do alvo das agressões.

Há um limite muito tênue entre a brincadeira e o bullying. Romper este limite é muito comum, o que faz a brincadeira tornar-se bullying. Por isso, é preciso que estejamos muito atentos a fim de identificar com rapidez a ocorrência desses comportamentos agressivos e repetitivos e promover ações que impeçam o pior, pois as conseqüências podem ser irreparáveis.

Dentre as ações promovidas para este fim, estão: conversas com as crianças e jovens a fim de conscientizá-los a respeito do bullying; palestras para os pais, professores e funcionários das escolas; trabalhos em grupo; presença de inspetores nas escolas; supervisão de adultos durante atividades livres; psicoterapia.

Devemos nos conscientizar de que o bullying não é um comportamento normal. É um sintoma de algo que não vai bem na vida das pessoas envolvidas. Se os pais, professores ou cuidadores de uma criança ou jovem perceberem alguma mudança de comportamento repentina que se assemelhe aos comportamentos citados acima, é importante que haja espaço para conversar abertamente a respeito do bullying. Muitas vezes sentimentos de culpa e de vergonha impedem que se fale a respeito disso. Por isso, é muito importante que não haja nenhum tipo de julgamento por parte dos pais ou responsáveis ou cobrança de comportamentos defensivos como o “se te bateram, revide”. O alvo do bullying normalmente não tem por característica revidar. Esperar que ele aja desta maneira irá piorar a situação, gerando mais vergonha, culpa e auto-estima negativa.

É importante que a mensagem dos pais e cuidadores seja clara e assegure os seguintes pontos:

1) Você não está sozinho
2) Não é culpa sua
3) Você pode fazer alguma coisa a respeito disso

Fontes:
http://www.bullying.org/
http://www.bullying.com.br/
http://www.abc.tcd.ie/
http://en.wikipedia.org/wiki/Bullying
FREUD, Sigmund. Espanca-se uma Criança. (1919) Obras Completas. Rio deJaneiro: Ed. Imago, 1976.

Dê uma olhada nestes textos:
http://www.bullying.org/external/documents/Bullying_Information_Portuguese.pdf
http://nces.ed.gov/pubs2005/2005310.pdf
http://nces.ed.gov/pubs2005/2005310.pdf

Marcelo Gesualdi, Psicólogo e membro da equipe de coordenadores do Projeto Girassol.
www.psicologiaemrevista.blogspot.com.br

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